Sobre Alzheimer

1 - O que é Alzheimer

A Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa, até o momento sem tratamento curativo, causada pelo acúmulo anormal de algumas proteínas no cérebro, destacando-se a proteína beta-amiloide e a proteína tau.

Seu nome faz referência ao médico Alois Alzheimer, o primeiro a descrever a doença, em 1906, após estudar o caso de Auguste Dieter, uma senhora de 51 anos que desenvolveu um quadro demencial. Após o falecimento da paciente aos 55 anos, Dr. Alzheimer estudou o cérebro dela e descreveu pela primeira vez as alterações neuropatológicas que hoje são entendidas como o marco da doença.

A doença de Alzheimer é a principal causa de demência no mundo, representando cerca de 60% dos casos. No Brasil, estima-se que mais de 1.7 milhão de pessoas tenham essa condição. Infelizmente, a maior parte delas (cerca de 70%) ainda não possui diagnóstico.

A doença de Alzheimer costuma se manifestar clinicamente como uma síndrome demencial (vide também tópico sobre Demência), que acomete principalmente indivíduos mais idosos, principalmente após os 65 anos de idade. Na sua forma clássica, se apresenta com o comprometimento de memória episódica. Essas pessoas vão ter muita dificuldade para lembrar de fatos recentes, ficando mais repetitivas (ex: contando a mesma história várias vezes, fazendo as mesmas perguntas de maneira repetida). Curiosamente, a memória tardia está mais preservada. Dessa forma, essas pessoas conseguem contar com uma riqueza de detalhes sobre fatos ocorridos muitos anos atrás, mas não conseguem lembrar de conversas ou eventos ocorridos nas últimas horas/dias.

Existem formas mais raras da doença que podem se iniciar em pessoas mais jovens (antes dos 65 anos), que geralmente costumam ter o acometimento de outros domínios cognitivos, como linguagem e funções visuo-espaciais.

Até o momento, a doença de Alzheimer não possui tratamento curativo efetivo. Existem diversas medicações disponíveis que podem ser usadas no tratamento sintomático dessa condição. Inclusive, são remédios disponíveis no SUS (sistema único de saúde).

2 - Demência

Demência é um termo genérico e amplo, usado para caracterizar um estado em que o indivíduo apresenta algum comprometimento cognitivo em ao menos dois domínios cognitivos (ex: memória, velocidade de raciocínio, linguagem, função visuo-espacial…) intenso o suficiente para interferir na sua funcionalidade.

Funcionalidade, por outro lado, é a capacidade de uma pessoa conseguir cuidar de sua vida de maneira independente, sozinha. Dizemos que uma pessoa está com a funcionalidade preservada quando ela consegue cuidar dos seus remédios, compromissos e dinheiro sozinha, bem como sair de casa sozinha para resolver alguma situação e voltar sem a ajuda de outros.

Dessa forma, em uma demência, o indivíduo apresenta um declínio cognitivo que já é intenso o suficiente para comprometer a sua capacidade de viver sozinho, comparado com um padrão prévio. Assim, faz-se necessário o auxílio de outras pessoas, como familiares e cuidadores, para administração dos remédios e finanças. Em estágios mais avançados das demências, essas pessoas passam a precisar de ajuda também para realizar atividades de autocuidado, como banho e higiene íntima.

É importante entender que a DEMÊNCIA NÃO FAZ PARTE DO ENVELHECIMENTO NORMAL. Apesar de acometer principalmente indivíduos mais idosos, isso não faz parte do processo natural de envelhecimento. Devemos entender a demência sempre como uma condição patológica, que merece ser reconhecida, corretamente diagnosticada e tratada.

Atualmente, estima-se que quase 50 milhões de pessoas tenham demência no mundo. Estudos apontam que esse número vai triplicar até 2050 (150 milhões de pessoas!). No Brasil, acredita-se que quase 2 milhões de indivíduos tenham alguma demência. Infelizmente, a maioria deles ainda sem diagnóstico.

A principal causa de demência no mundo é a doença de Alzheimer, que representa aproximadamente 60% dos casos. Porém, existem várias outras causas de demência, que podem cursar com sintomas clínicos diferentes, além de evolução, prognóstico e tratamentos distintos.

Quais são os sinais da Doença de Alzheimer?
O paciente com Alzheimer costuma se apresentar como perda da memória recente. Clinicamente, encontramos um indivíduo mais repetitivo (repetindo perguntas ou assuntos). Pode esquecer também onde guardou objetos e a data de compromissos. Curiosamente, a memória tardia está mais preservada. Dessa forma, essas pessoas são capazes de contar com uma grande riqueza de detalhes sobre eventos ocorridos décadas atrás, mas não conseguem lembrar de eventos ocorridos nas últimas horas/dias.

Essas pessoas podem ter dificuldade em se localizar em ambientes, motivo pelo qual costumam se perder mesmo em locais previamente conhecidos. Em fases mais avançadas, pode ocorrer dificuldade em atividades de higiene pessoal e autocuidado.

Sintomas neuropsiquiátricos, como agitação, alucinações e insônia podem ocorrer, principalmente em fases mais avançadas da doença, levando a grande sofrimento para o paciente e familiares/cuidadores.

Outras demências
Além da Doença de Alzheimer, existem muitos outros tipos de demência, como:

Demência vascular
É a segunda principal causa de demência no mundo. Ocorre devido a lesões cerebrais de origem vascular (acidente vascular cerebral isquêmico/hemorrágico e doença cerebrovascular).

As manifestações clínicas são bastante heterogêneas e dependem da localização e do número de lesões cerebrais. As lesões vasculares cerebrais podem ocorrer como infartos silenciosos, que não resultam em sintomas clínicos ou na forma de eventos clínicos sintomáticos, conhecidos como AVC (acidentes vasculares cerebrais), popularmente chamados de “derrame”.

Demência com corpos de Lewy
É uma causa menos comum de demência. Clinicamente, esses indivíduos se manifestam com uma síndrome demencial marcada por sintomas visuo-espaciais, alucinações visuais (“ver coisas que não existem”), alterações do sono – um fenômeno específico marcado por sonhos vívidos, com movimentos bruscos e intensos (chamado de transtorno comportamental do sono-REM).

Apresentam também sintomas motores, como tremor e rigidez dos membros, além de bradicinesia (redução da velocidade dos movimentos). Um outro marco dessa entidade é a flutuação dos sintomas ao longo do dia/semana, com momentos em que essas pessoas estão muito bem, “quase normais”, alternando com períodos em que elas estão bastante confusas e sonolentas.

Outras características da doença incluem quedas repetidas, desmaios, delírios (acreditar em coisas que não existem), outras formas de alucinações (auditivas – “ouvir coisas que não existem”) e sensibilidade importante, com reações adversas intensas, ao uso de medicações para delírios e alucinações (antipsicóticos).

Demência na Doença de Parkinson
A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa marcada por sintomas motores, como tremor, rigidez e bradicinesia (redução da velocidade dos movimentos) de membros.

Em fases mais avançadas da doença, geralmente 8-12 anos após o início dos sintomas, podem surgir sintomas cognitivos característicos de uma demência. Clinicamente, é muito parecida com a demência com corpos de Lewy (DCL), com alucinações visuais, flutuações cognitivas e alterações do sono. Uma grande diferença entre elas é entre o tempo de início dos sintomas motores (tremor, rigidez e bradicinesia) e a síndrome demencial, que na doença de Parkinson é de 8-12 anos, enquanto na DCL é de menos de 1 ano.

Demência frontotemporal
O termo demência frontotemporal engloba uma série de entidades clínicas caracterizadas por uma atrofia predominante de estruturas cerebrais frontais e temporais.

A principal entidade representante desse grupo é a variante comportamental da demência frontotemporal, que se caracteriza por um quadro degenerativo marcado por uma síndrome demencial associada a sintomas comportamentais, como desinibição (até de cunho sexual), perda da empatia, apatia, inquietação, perda da capacidade de julgamento, impulsividade, entre outros. Clinicamente, é como se essas pessoas “mudassem suas personalidades”.

O comprometimento de memória é menos evidente do que na doença de Alzheimer e também costuma ocorrer em indivíduos menos idosos (<65 anos). Ansiedade e depressão são comuns. O paciente pode apresentar atos violentos, comportamentos ruins que não apresentava antes da doença, o que leva a grande sofrimento ao paciente e seus familiares/cuidadores.

3 - Evolução da Doença

A Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa, que ainda não possui tratamento curativo efetivo. Dessa forma, os sintomas clínicos progridem de forma lenta e gradual. Podemos dividir essa condição em três estágios: leve, moderado e avançado.

Na fase leve, podem ocorrer alterações como perda de memória recente, dificuldade para encontrar palavras, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade para tomar decisões, perda de iniciativa e de motivação, sinais de depressão, agressividade, diminuição do interesse por atividades e passatempos. Geralmente, esses indivíduos ainda conseguem manter a capacidade de sair de casa e resolver tarefas simples, mas com dificuldade no trabalho. Precisam de supervisão para atividades mais complexas como o pagamento de contas, administrar seu dinheiro e cuidar dos seus remédios.

Nessa fase leve, os sintomas muitas vezes não são percebidos por pessoas que não tem o convívio próximo com o paciente. Familiares mais próximos podem perceber dificuldades, como discurso mais repetitivo (repete várias vezes a mesma história ou pergunta) e dificuldade em organizar ideias e pensamentos.

Na fase moderada, são comuns dificuldades mais evidentes com atividades do dia a dia, com prejuízo de memória, esquecimento de fatos mais importantes, como nomes de pessoas próximas. Nessa fase, essas pessoas não conseguem mais sair de casa sozinhas, pois se perdem e não conseguem mais realizar atividades fora de casa sem supervisão. Ainda conseguem realizar tarefas simples do lar e apresentam autocuidado (como higiene íntima) relativamente preservado. É comum o surgimento de sintomas neuropsiquiátricos nesse momento, como agitação, irritabilidade, insônia, agressividade e delírios (ideias sem fundamento, como ciúmes, desconfiança…)

Na fase grave, observa-se prejuízo acentuado da memória, com incapacidade de registro de dados e muita dificuldade na recuperação de informações antigas como reconhecimento de parentes, amigos e locais conhecidos. Passam a necessitar de cuidados praticamente contínuos, inclusive para atividades de autocuidado e alimentação (costumam começar a ter disfagia – engasgos). Pode haver incontinência urinária e fecal e intensificação dos sintomas neuropsiquiátricos (mencionados acima). Há tendência de prejuízo motor, que interfere na capacidade de locomoção, sendo necessário auxílio para caminhar. Posteriormente, o paciente pode necessitar de cadeira de rodas ou ficar acamado.

*Alertamos para o fato de que essa divisão tem caráter didático e, muitas vezes, sintomas classificados em diferentes fases se mesclam em um mesmo período.

4 - Tratamento

Até o momento, NÃO existe tratamento curativo efetivo para a Doença de Alzheimer. Os avanços nos trabalhos clínicos permitiram o desenvolvimento de terapias que ajudam no controle dos sintomas.

As pesquisas têm progredido na compreensão dos mecanismos que causam a doença e no desenvolvimento das drogas para o tratamento. Os objetivos dos tratamentos são aliviar os sintomas existentes, estabilizando-os ou, ao menos, permitindo que boa parte dos pacientes tenha uma progressão mais lenta da doença, conseguindo manter-se independentes nas atividades da vida diária por mais tempo. Os tratamentos indicados podem ser divididos em farmacológico e não farmacológico.

Tratamento farmacológico
Acredita-se que parte dos sintomas ocorram por uma redução na quantidade de  uma substância presente no cérebro, chamada de acetilcolina. Um modo possível de tratar a doença é utilizar medicações que inibam a degradação dessa substância, aumentando sua disponibilidade no cérebro.

A primeira medicação, testada há mais de 30 anos, foi a fisostigmina, que apesar de proporcionar melhora da memória foi inutilizada por provocar muitos efeitos colaterais.

A primeira droga utilizada em larga escala e aprovada pelas agências reguladoras, em 1993, foi a Tacrina. Porém, essa medicação caiu em desuso com o advento de novas medicações, mais facilmente administradas e com menos efeitos adversos. 

Existem 3 medicações aprovadas para uso no Brasil que atuam inibindo a degradação da acetilcolina (conhecidas como anticolinesterásicos): Donepezila, Galantamina e Rivastigmina.

As vantagens e as desvantagens de cada medicação e o modo de administração devem ser discutidos com o médico que acompanha o paciente. Esses remédios ajudam no controle dos sintomas, levando a um atraso na progressão da doença (o paciente piora mais devagar), além de ajudar a controlar alguns sintomas neuropsiquiátricos quando presentes. A resposta ao tratamento é individual e muito variada, mas costuma ser modesta na maioria dos indivíduos.

No Brasil, estão aprovadas para o tratamento da doença de Alzheimer nas fases leves, moderadas e avançadas da doença (vide tópico “evolução da doença”) e são disponíveis de maneira gratuita pelo sistema único de saúde (SUS).

A memantina é outra medicação aprovada para o tratamento da demência da doença de Alzheimer. Ela atua reduzindo um mecanismo específico de toxicidade das células cerebrais causado por um neurotransmissor chamado glutamato. É possível também que facilite a neurotransmissão e a neuroplasticidade. O uso da memantina, isoladamente ou associada aos anticolinesterásicos, é indicado no tratamento das pessoas com doença de Alzheimer nas fases moderada a grave.

Para o tratamento da doença de Alzheimer nas fases leve, a memantina não tem benefício claro, podendo até levar a piora da cognição em alguns casos. Dessa forma, não deve ser usado nas fases leves/iniciais dessa condição.

Os sintomas neuropsiquiátricos/comportamentais e psicológicos podem ser tratados com medicações específicas e que possuem outros mecanismos de ação. Devem ser discutidas com os médicos assistente de maneira individualizada em cada caso.

É importante que doses e horários das medicações prescritas sejam seguidas com rigor. Alterações ou reações não esperadas devem ser comunicadas ao médico responsável pelo tratamento, para possíveis ajustes. É terminantemente desaconselhável que pacientes ou familiares testem modificações sem a orientação médica, sob risco de efeitos indesejáveis e prejuízo no controle de sintomas.

Mais recentemente, houve a aprovação pela ANVISA de uma nova medicação para o tratamento da doença de Alzheimer no Brasil, o Donanemab. Essa medicação é um anticorpo monoclonal, capaz de se ligar à proteína beta-amiloide acumulada de maneira anormal no cérebro dessas pessoas, levando à eliminação dessa proteína. Isso parece ser capaz de reduzir a velocidade de progressão da doença em pacientes em estágios iniciais dessa condição (comprometimento cognitivo leve e demência leve pela doença de Alzheimer).

Importante mencionar que essa medicação não é indicada para todos os casos de DA, sendo restrita a indivíduos em estágios precoces e que tenham a comprovação da presença da proteína beta-amiloide no cérebro (vide tópico diagnóstico), que pode ser feita com uso de biomarcadores. Ressaltamos que esse tratamento está associado a alguns efeitos colaterais potencialmente graves e por isso necessitam de uma avaliação cuidadosa, por profissionais capacitados, para que sejam indicadas em casos específicos, visando a melhor segurança e garantindo o melhor resultados dos pacientes.

Outras medicações e substâncias
Não são incomuns prescrições de outras substâncias e medicações para o tratamento da demência da doença de Alzheimer. As evidências, até o momento, são de ineficácia do tratamento com ginkgo biloba, selegilina, vitamina E, Ômega 3, redutores da homocisteína, estrogênio, anti-inflamatórios e estatina. Sendo assim, o uso dessas substâncias e medicações, com fim específico de tratamento para essa condição, não é recomendado.

Tratamento não farmacológico
Há evidências científicas que indicam que atividades de estimulação cognitiva, social e física beneficiam a manutenção de habilidades e favorecem a melhora da funcionalidade.

O treinamento das funções cognitivas como atenção, memória, linguagem e orientação, com a utilização de estratégias compensatórias são muito úteis para investimento em qualidade de vida.

Pacientes mais ativos utilizam o cérebro de maneira mais ampla e frequente e sentem-se mais seguros e confiantes quando submetidos a tarefas prazerosas e alcançáveis. A seleção, frequência e distribuição de tarefas deve ser criteriosa e, preferencialmente, orientada por profissionais capacitados.

Com o intuito de auxiliar os pacientes, algumas famílias ou cuidadores tendem a sobrecarregá-los com atividades que julgam poder ajudar no tratamento, desfavorecendo resultados e correndo o risco de criar resistência ou de tornar o ambiente tenso.

A qualidade e a quantidade de estímulos devem ser monitoradas e avaliadas a partir da resposta de maneira individualizada. É de fundamental importância para a adesão às propostas que essas atividades sejam agradáveis e compatíveis com as capacidades e interesses de cada paciente.

O intuito dos tratamentos não farmacológicos não é fazer com que a pessoa com demência/Alzheimer volte a funcionar como antes (ou pelo menos parcialmente como antes) da instalação da doença, mas que funcione o melhor possível a partir de novos e evolutivos parâmetros.

Quando estimulados e submetidos a atividades que conseguem realizar, os pacientes apresentam ganho de autoestima e iniciativa, e assim tendem a otimizar o uso das funções ainda preservadas.

As intervenções oferecidas podem ser de três áreas diversas. Quando combinadas, podem obter melhores resultados. Embora sejam importantes, sugere-se cautela na oferta de tratamento com intervalo entre atividades.

1 – Estimulação cognitiva
Consiste em atividades ou programas de intervenção que visam a potencializar as habilidades cognitivas mediante a estimulação sistemática e continuada em situações práticas que requerem o uso de pensamento, raciocínio lógico, atenção, memória, linguagem e planejamento.

O objetivo geral desse tipo de estimulação é minimizar as dificuldades dos pacientes a partir de estratégias compensatórias, para que possam fazer uso de recursos intelectuais presentes de maneira consistente. Podem ser feitas atividades grupais ou individuais. Em ambos os casos, deve-se atentar para as necessidades dos pacientes, para situações do dia a dia que promovam autonomia e capacidade decisória, a partir de novas estratégias, para o cumprimento de tarefas.

Durante as atividades são utilizadas técnicas que resgatam memória antiga, exploram alternativas de aprendizado, promovem associação de ideias, exigem raciocínio e atenção dirigida, favorecem planejamento com sequenciamento em etapas e antecipação de resultados e consequências, proporcionam treino de funções motoras e oferecem controle comportamental relacionado aos impulsos e reações.

Pode ser praticada em tarefas variadas como jogos, desafios mentais, treinos específicos, construções, reflexões, resgate de histórias e uso de materiais que compensam dificuldades específicas (por exemplo, calendário para problemas de orientação temporal).

2 – Estimulação social
São iniciativas que priorizam o contato social dos pacientes estimulando as habilidades de comunicação, convivência e afeto, promovendo integração e evitando a apatia e a inatividade diante de dificuldades. Além de intervenções em grupo para estimulação cognitiva e física, podem ser realizadas atividades de lazer, culturais, celebração de datas importantes e festivas. É essencial que sejam organizadas a partir das experiências anteriores do paciente e que envolvam temas que despertem seu interesse e motivação. Lugares muito movimentados e com muitas pessoas podem dificultar o aproveitamento dos pacientes, pois estímulos simultâneos podem deixá-los confusos. Sugere-se que a família observe o comportamento de pacientes em situações sociais e que verifique se estão à vontade e aproveitando. Caso o idoso com doença de Alzheimer tenha dificuldade em acompanhar conversas paralelas ou fique agitado com a movimentação, a conduta deve ser a de tornar o ambiente mais propício para ele, com menos estímulos simultâneos. Nesse caso, não há necessidade de cancelar compromissos, mas de proporcionar ambiente mais calmo e com menos pessoas a cada encontro.

Para o idoso, o contato com a família tende a ser a principal fonte de convívio e satisfação a partir de interação social. Diante das dificuldades dos idosos com doença de Alzheimer, pode parecer que as alternativas de contato fiquem limitadas a ponto de inviabilizar o relacionamento. Isso não é verdade. Há muitas maneiras de relacionamento de qualidade com alcance mútuo de satisfação: resgatar histórias antigas, especialmente envolvendo lembranças agradáveis e que tenham relevância familiar, contato físico e afetuoso, bem como acompanhamento de rotina e atividades diárias. São esses os tipos de tarefas que o paciente tende a ficar mais à vontade e aproveitar melhor o momento de encontro com familiares.

3 – Estimulação física
A prática de atividade física e de fisioterapia oferece benefícios neurológicos e melhora na coordenação, força muscular, equilíbrio e flexibilidade. Contribui para o ganho de independência, favorece a percepção sensorial, além de retardar o declínio funcional nas atividades de vida diária. Alguns estudos mostram que atividades regulares estão associadas à evolução mais lenta da doença de Alzheimer. Além de alongamentos, podem ser indicados exercícios para fortalecimento muscular e exercícios aeróbicos moderados, sob orientação e com acompanhamento dirigido.

4 – Organização do ambiente
O ambiente da pessoa com doença de Alzheimer influencia seu humor, sua relação com as pessoas e até sua capacidade cognitiva. Diante de situações agitadas ou desorganizadas, pode haver uma tendência à confusão mental que prejudica o funcionamento de modo geral. Por isso, oferecer ambiente adequado pode ser uma forma de minimizar sintomas, bem como favorecer a qualidade de vida.

Organizar o ambiente tem como objetivo inibir ou controlar as manifestações de sintomas comportamentais como ansiedade e agitação, delírios e alucinações e inadequações sociais. O ambiente deve ser tranquilo, com situações previsíveis, evitando características que possam ser interpretadas como ameaçadoras. Sugere-se utilizar tom de voz ameno e evitar confrontos e conflitos desnecessários, repetitivos e duradouros, diminuir e evitar barulhos e ruídos, amenizar estímulos luminosos muito intensos, deixar o ambiente claro, limpo e organizado, estabelecer uma rotina estável e simplificada.

5 – Tratamentos específicos para problemas específicos
Nos estágios iniciais da doença de Alzheimer são esperadas reações emocionais negativas, assim como dificuldade de adaptação a mudanças, com prejuízos sociais progressivos. Lidar com as perdas associadas ao processo de adoecimento envolve o confronto com déficits e, consequentemente, com frustrações. Nessa etapa da doença, é esperado que o paciente identifique, pelo menos parcialmente, os prejuízos e tente evitá-los. Por isso, pode acontecer de ficar menos motivado para atividades e encontros sociais.

Em fases mais avançadas da doença, em que os sintomas passam a ser mais evidentes, o confronto com prejuízos que interferem na autonomia é mais presente. Alguns pacientes podem precisar de monitoramento constante, para evitar exposição a situações de risco. Em algumas famílias, pode ser necessário o auxílio de cuidadores profissionais ou de mais integrantes na equipe de cuidados.

Além de auxílio dos cuidadores, podem ser necessários tratamentos específicos, envolvendo a busca pela minimização de dificuldades que passam a interferir nas atividades diárias. Os tratamentos mais frequentes são os que requerem estímulo à locomoção e motricidade, deglutição, comunicação e nutrição.

A cada etapa da doença, profissionais especializados podem ser indicados para minimizar problemas e orientar a família, com o objetivo de favorecer a superação de perdas e enfrentar o processo de adoecimento, mantendo a qualidade de contato e relacionamento. Muitos são os profissionais que cuidam de pessoas com Doença de Alzheimer. Além de médicos (geralmente neurologistas, geriatras, psiquiatras ou clínicos gerais), há a atuação de outros profissionais de saúde: psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, educadores físicos, assistentes sociais e dentistas.

5 - Diagnóstico

É importante ressaltar que as síndromes demenciais NÃO fazem parte do processo normal de envelhecimento. Apesar disso, pelo fato de ocorrer principalmente em idosos, os sintomas não são reconhecidos ou frequentemente minimizados e atribuídos ao envelhecimento, levando ao atraso do diagnóstico.

O primeiro passo para um diagnóstico é o reconhecimento dos sintomas pelos familiares/cuidadores. A partir disso, deve-se procurar profissionais e/ou serviços de saúde especializados para diagnóstico precoce no estágio inicial da doença, o que favorecerá a evolução e o prognóstico do quadro.

Atualmente, o diagnóstico clínico da doença de Alzheimer é feito com base em uma avaliação clínica por profissional capacitado, com coleta da história dos sintomas, associado a testes cognitivos específicos para identificar quais  dos domínios cognitivos (ex: memória, linguagem…) comprometidos, associado à realização de alguns exames complementares.

Os exames complementares são tanto de sangue como de neuroimagem (exames de imagem do cérebro), como tomografia computadorizada ou ressonância magnética. Esses exames são obrigatórios e devem ser realizados em todos os indivíduos com uma síndrome demencial.

O diagnóstico de certeza da doença de Alzheimer só pode ser feito com a análise microscópica do cérebro do doente após seu falecimento. Para dar mais certeza diagnóstica, alguns outros exames complementares podem ser realizados, como os biomarcadores. A possibilidade de novas terapias com alvo específicos na proteína amiloide levará a necessidade de utilizar esses métodos diagnósticos antes de um possível tratamento. Reforçamos que esses exames não são amplamente disponíveis na prática clínica e devem ser realizados apenas em casos bastante específicos, solicitados por profissionais especializados no assunto

A academia brasileira de neurologia publicou recentemente, em 2024, um documento sugerindo critérios para a solicitação e interpretação desses exames na prática clínica no Brasil. 

É reconhecida uma fase da Doença de Alzheimer anterior ao quadro de demência. Essa fase é chamada de comprometimento cognitivo leve devido à Doença de Alzheimer. Nessa fase, os indivíduos possuem um comprometimento cognitivo, mas que ainda não foi intenso o suficiente para comprometer a sua funcionalidade (ver tópico Demência para melhor entendimento). 

Em casos específicos de comprometimento cognitivo leve, a realização de uma avaliação especializada e realização de alguns exames complementares específicos pode ajudar a dar o diagnóstico de doença de Alzheimer e entender quais indivíduos terão uma piora cognitiva nos próximos anos. Ressaltamos que esses casos são extremamente pontuais e devem ser discutidos com profissionais capacitados.

No campo das pesquisas na área da genética, sabe-se que alguns genes estão relacionados a maior risco de desenvolvimento da doença. Não é indicado a realização de pesquisa desses genes na prática clínica. Um perfil genético ligado a uma proteína carreadora de lipídios (gordura) chamada ApoE (ApoE4/E4) está relacionada ao maior risco de desenvolver Alzheimer, assim como maior risco de ter complicações mais graves associadas às novas terapias contra alvo amilóide. 

6 - Fatores de Risco

A idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de demência da doença de Alzheimer (DA). Após os 65 anos, o risco de desenvolver a doença dobra a cada cinco anos.

As mulheres parecem ter risco maior para o desenvolvimento da doença quando comparada com os homens, mas talvez isso aconteça pelo fato de elas terem maior expectativa de vida do que os homens.

Os familiares de pacientes com DA têm risco maior de desenvolver essa doença no futuro, comparados com indivíduos sem parentes com Alzheimer. No entanto, isso não quer dizer que a doença seja hereditária.

Na maioria dos casos da doença, que se iniciam após os 65 anos, o componente genético é menos importante, com baixa probabilidade de formas que passam de pais/mães para filhos. Existem formas mais raras da doença causadas por mutações em genes específicos, que geralmente se iniciam em indivíduos mais novos (<50-60 anos) e costumam de herança autossômica dominante, passando, assim, de pai/mãe para filho.

Aproximadamente 50% dos casos de demência poderiam ser potencialmente evitados com o controle de alguns fatores de risco. A seguir, listamos quais são esses fatores baseados nas melhores e mais recentes pesquisas científicas..

1 – Menor Escolaridade
Ter menos anos de estudo na infância está ligado a um maior risco de desenvolver demência no futuro. 

2 – Perda Auditiva
Não tratar a perda de audição na idade adulta pode aumentar o risco de demência. 

3 – Altos Níveis de Colesterol (LDL)
O colesterol ruim (LDL) elevado parece aumentar o risco de desenvolver demências. 

4 – Depressão
A depressão na idade adulta não tratada está associada a um maior risco de demência. 

5 – Lesão Cerebral Traumática
Traumas na cabeça, como os que ocorrem em acidentes ou esportes de contato, aumentam o risco de demência. Usar capacetes em atividades como andar de bicicleta ou praticar esportes pode ajudar na prevenção.

6 – Inatividade Física
A falta de exercícios físicos está relacionada com maior risco de demêncial. Praticar atividades como caminhadas, natação ou dança fortalece tanto o corpo quanto a mente.

7 – Tabagismo
Fumar prejudica a circulação sanguínea e acelera o envelhecimento cerebral. Parar de fumar, além de proteger o coração e os pulmões, também reduz o risco de demência.

8 – Diabetes
Monitorar os níveis de açúcar no sangue, manter uma alimentação saudável e praticar exercícios são formas de prevenir tanto o diabetes quanto seus efeitos no cérebro.

9 – Hipertensão (Pressão Alta)
A pressão alta pode aumentar o risco de demência. Controlar a pressão com alimentação adequada, exercícios e, se necessário, medicamentos é essencial.

10 – Obesidade
O excesso de peso, especialmente na meia-idade, está ligado a um risco maior de demência. Manter um peso saudável ajuda a proteger o cérebro e o corpo.

11 – Consumo Excessivo de Álcool
Beber em excesso pode danificar o cérebro a longo prazo. Reduzir o consumo de álcool e evitar bebidas em excesso é uma forma importante de proteger a mente.

12 – Isolamento Social
A solidão e a falta de interação social na terceira idade aumentam o risco de demência. Manter-se conectado com amigos, família e participar de atividades em grupo ajuda a manter o cérebro ativo e saudável.

13 – Poluição do Ar
A exposição prolongada à poluição do ar pode afetar a saúde cerebral, aumentando o risco de demências. Sempre que possível, evitar áreas muito poluídas e adotar práticas sustentáveis ajuda tanto o meio ambiente quanto a saúde.

14 – Problemas de Visão Não Tratados
A perda de visão não corrigida pode aumentar o risco de demência. Consultar regularmente o Oftalmologista e usar óculos ou lentes, quando necessário, é fundamental.

Conclusão
Embora não seja possível evitar todos os casos de demência, cuidar desses 14 fatores de risco pode fazer uma grande diferença futura, prevenindo até 50% dos casos de demência no mundo. Pequenas mudanças no estilo de vida, como manter uma alimentação equilibrada, praticar exercícios, cuidar da saúde mental e manter conexões sociais, ajudam não só a proteger o cérebro, mas também a melhorar a qualidade de vida como um todo. Nunca é cedo ou tarde demais para começar!.

Referência:
Livingston G, Huntley J, Liu KY, et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of the Lancet standing Commission. The Lancet. Published online July 31, 2024. Available at: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)01296-0.