Alzheimer: Descobertas, prevenção e o papel do cuidado humanizado

O Alzheimer, um dos tipos mais comuns de demência, representa um desafio crescente para a saúde global, com projeções de que os casos tripliquem até 2050. No entanto, a ciência e a medicina estão constantemente explorando novos caminhos para compreender, prevenir e gerenciar essa condição, oferecendo perspectivas importantes para pacientes e suas famílias.

Compreendendo os Primeiros Sinais e o Impacto Crescente

Os primeiros sinais do Alzheimer podem ser sutis e, por vezes, confundidos com outras condições, como a depressão. Casos como o de Daniel München, que aos 54 anos começou a enfrentar dificuldades de organização e problemas visuais, ilustram como a doença pode se manifestar precocemente, embora a maioria dos diagnósticos ocorra a partir dos 65 anos. Mudanças comportamentais, dificuldade em atividades diárias e esquecimento de episódios recentes são indícios que demandam atenção.

Com o envelhecimento populacional, a prevalência da demência tem aumentado. No Brasil, estima-se que 1,8 milhão de pessoas vivam com demência, um número que pode chegar a 5,7 milhões até a metade do século. Diante desse cenário, a prevenção e o diagnóstico precoce tornam-se cruciais.

A Força da Prevenção: Fatores Evitáveis

A boa notícia é que uma parcela significativa dos casos de demência pode ser prevenida por meio da modificação de fatores de risco. Segundo um estudo da USP, orientado pela Doutora Claudia Suemoto, diretora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), “É uma condição extremamente comum, mas isso não quer dizer que seja um processo normal da idade.” Esse mesmo estudo aponta que “54% dos casos de demência na América Latina poderiam ser evitados prevenindo uma série de fatores de risco. O índice é superior à taxa global, de 40%.”

Entre os 14 fatores de risco modificáveis, destacam-se: baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, tabagismo, obesidade, depressão não tratada, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, traumatismo cerebral, poluição do ar, isolamento social, colesterol alto (LDL) e perda de visão. A intervenção nesses pontos ao longo da vida pode impactar positivamente o risco de desenvolver a doença.

Políticas Públicas e Avanços no Tratamento

A prevenção da demência não é apenas uma responsabilidade individual, mas também uma questão de saúde pública. Ações que garantam acesso à educação de qualidade, controle da poluição e manejo de doenças crônicas são essenciais. Doutora Celene Pinheiro de Oliveira, médica geriatra e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), ressalta que “Já temos programas fabulosos, como o Hiperdia, que faz acompanhamento de pacientes com hipertensão e diabetes no SUS, além de contarmos com o Programa Nacional de Imunizações, que é referência mundial.” Pesquisas recentes também indicam que a vacinação na maturidade pode proteger contra danos neurológicos, reforçando a importância das políticas de imunização.

No campo do tratamento, novos medicamentos, como o donanemabe, têm demonstrado a capacidade de reduzir a progressão da doença em estágios iniciais, representando um avanço significativo após décadas sem novas opções terapêuticas. Embora essas novas terapias ainda apresentem limitações, como o alto custo e a indicação restrita a casos iniciais, elas abrem portas para o futuro da pesquisa.

O Cuidado Humanizado e o Apoio ao Cuidador

Para a maioria dos pacientes, o tratamento vai além dos remédios, englobando abordagens que visam preservar a qualidade de vida e a autonomia. Terapia de estimulação cognitiva, reabilitação, intervenções psicossociais e atividades como música e dança são fundamentais para manter o cérebro ativo e fortalecer as conexões sociais.

O papel dos cuidadores é essencial, e, no Brasil, são majoritariamente mulheres que assumem essa função, arcando com o desgaste físico, emocional e financeiro. Reconhecer e apoiar esses indivíduos é vital. Doutora Celene Pinheiro de Oliveira enfatiza: “A pessoa tem que estar bem para cuidar plenamente do outro. Por isso, é preciso que ela conte com uma rede de apoio e tenha tempo para as suas necessidades, mantendo a saúde em dia e o prazer de viver.”Instituições como a ABRAz oferecem suporte e redes de acolhimento para que tanto pacientes quanto cuidadores possam enfrentar os desafios impostos pelo Alzheimer.

A ciência continua a desvendar os mistérios do Alzheimer, e cada descoberta nos aproxima de um futuro com mais prevenção, tratamentos eficazes e um cuidado mais abrangente.


Fonte: Baseado em informações da Matéria Veja Saúde, “Alzheimer: descobertas da ciência para salvar as engrenagens do cérebro”. Para ler a matéria clique aqui.