Pesquisa avança no diagnóstico de Alzheimer pela saliva

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Um estudo multinacional estabeleceu protocolos para a coleta de saliva com o objetivo de identificar biomarcadores da doença de Alzheimer, com a expectativa de que este método não invasivo possa detectar a doença antes dos primeiros sintomas. Atualmente, os testes existentes só identificam as placas amiloides após estarem instaladas no cérebro, e a maioria dos diagnósticos é clínica, baseada nos relatos do paciente de esquecimento e confusão.

O farmacêutico brasileiro Gustavo Alves, único pesquisador da América Latina no estudo, destaca que a pesquisa constitui uma etapa “pré-analítica” que define como a saliva deve ser tratada para os testes. O grupo de pesquisa investiga a saliva como um fluido diagnóstico e produziu uma diretriz que indica o preparo necessário antes da análise. Embora o teste ainda esteja em fase de validação e não esteja disponível comercialmente ou para diagnóstico, ele representa um avanço fundamental para tornar a descoberta do problema mais precoce.

A saliva contém biomarcadores que podem estar associados ao diagnóstico da doença de Alzheimer, e sua coleta é fácil, indolor, de baixo custo e não apresenta risco de infecção. O artigo publicado reforça que a necessidade de biomarcadores acessíveis e de alta precisão é urgente, tanto para Alzheimer quanto para outras demências. A proposta não é substituir outros exames, mas facilitar a triagem generalizada, especialmente em grupos carentes.

O psiquiatra Lucas Mella, especialista em neuropsiquiatria geriátrica e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) de São Paulo, reforça que os testes de saliva ainda são uma promessa, sem comprovação de diagnóstico, mas que podem mudar o cenário do tratamento se confirmados e bem estruturados. Segundo Mella, esse teste pode ser usado de forma massificada na atenção primária para triar pessoas com resultados alterados e encaminhá-las para avaliação.

Mella também aponta que o diagnóstico precoce de demência é atualmente limitado a centros de especialidade, com testes menos acessíveis e de alto custo, como análise do líquido cérebro-espinhal ou neuroimagem por tomografia. Testes com análise de sangue são um avanço, mas ainda são caros. A análise de saliva, por ser pouco invasiva e de baixo custo, pode trazer um avanço no diagnóstico precoce e no início do tratamento.

Os pesquisadores têm investigado o uso da saliva no diagnóstico de Alzheimer desde 2013, analisando a saliva de vários perfis de idade, com e sem a doença, e verificaram que existem diferenças nas proteínas entre os grupos. A ideia é ter a tecnologia pronta para a coleta de saliva para diagnóstico de Alzheimer dentro de um a dois anos. A saliva já é utilizada para diagnosticar HIV, hepatite, câncer de mama e Covid, e poderá ser de grande ajuda no diagnóstico do Alzheimer. O objetivo é identificar as alterações de biomarcadores antes que as placas comecem a se acumular no cérebro.

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