Prevenção do Alzheimer: um caminho que começa na infância e pode reduzir riscos em até 48% no Brasil

O Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer, 21 de setembro – data criada pela OMS em 1994 e, no Brasil, designada como o Dia Nacional de Conscientização desde 2008 – nos lembra da urgência em discutir essa condição que afeta milhões. Com 55 milhões de indivíduos acometidos por demência globalmente, e a Doença de Alzheimer sendo a principal causa, o foco na prevenção torna-se crucial. A Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) estima que, no Brasil, existam hoje 1,2 milhão de casos, muitos deles ainda sem diagnóstico.

Embora a demência seja mais frequente no envelhecimento, a preocupação e as ações preventivas devem iniciar muito antes. Há fatores de risco não modificáveis, como a idade e a genética, mas também há fatores modificáveis, nos quais podemos atuar.

Em 2020, uma comissão de especialistas liderada pela pesquisadora britânica Gill Livingston, organizada pela Revista Lancet, identificou 12 fatores de risco modificáveis que podem influenciar o desenvolvimento da demência desde o início da vida, com um potencial de redução de até 40% do risco total.

No Brasil, um estudo recente, com a participação do neurologista Paulo Caramelli e liderado pelas professoras Claudia Suemoto (USP) e Cleusa Ferri (Unifesp), indicou que o potencial de risco é ainda maior, chegando a 48%. Os principais fatores de risco modificáveis identificados no país são a baixa escolaridade (7,7%), seguida da hipertensão arterial (7,6%) e da perda auditiva (5,6%).

A Infância como Janela de Oportunidade

A baixa escolaridade na infância, por exemplo, tem um impacto significativo no futuro risco de demência. A estimulação intelectual e cultural proporcionada pela educação formal cria uma “reserva cognitiva”, que ajuda o cérebro a compensar eventuais lesões neurológicas. Além disso, a baixa escolaridade está frequentemente ligada a um nível socioeconômico mais baixo, que pode dificultar o acesso à saúde de qualidade e a uma nutrição saudável, fatores essenciais para o desenvolvimento cerebral.

Na vida adulta, a perda auditiva não tratada é o fator de maior peso, juntamente com traumatismo cranioencefálico, hipertensão, consumo de álcool e obesidade. Na velhice, somam-se a essa lista o tabagismo, depressão, isolamento social, inatividade física, poluição do ar e diabetes.

Iniciativas Globais e Nacionais na Prevenção

Diante desse potencial de prevenção, o projeto Finger, liderado pela pesquisadora Miia Kivipelto, da Finlândia, conduziu um estudo com cerca de 1.600 idosos com fatores de risco para demência. Os resultados mostraram uma melhora de 25% no desempenho cognitivo global no grupo que recebeu acompanhamento supervisionado, incluindo consultas médicas, nutricionistas, exercícios físicos e treino cognitivo.

Este sucesso levou à criação da rede global World Wide Fingers, que replica o modelo em mais de 40 países. Na América Latina, um estudo financiado pela Alzheimer Association está sendo realizado em 12 países, incluindo o Brasil, com dois centros nas universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e de São Paulo (USP), acompanhando 1.200 voluntários.

Essas iniciativas reforçam a importância de disseminar informações para que as pessoas busquem atendimento médico, controlem fatores de risco e adotem rotinas que incluem exercícios físicos, atividades sociais e atenção à saúde auditiva, à pressão alta e ao diabetes. Cuidar desses fatores ao longo da vida pode significar uma velhice com mais autonomia e saúde.

Conteúdo criado a partir de matéria original de O Globo. Para ler a matéria original, clique aqui.