Um ano após a aprovação da Lei Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Demência, geriatra defende que as ideias precisam sair do papel com urgência

O avanço da medicina e o aumento da expectativa de vida são conquistas inegáveis da humanidade. No entanto, com essa longevidade, surge um desafio crescente e muitas vezes negligenciado: o aumento exponencial dos casos de demência. A sensação de que “o futuro nos atropelou” é um alerta contundente, especialmente vindo de especialistas como Celene Pinheiro, presidente da ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer). A inação diante dessa onda de declínio cognitivo não é mais uma opção; é imperativo que ações concretas e coordenadas sejam tomadas com urgência.

A demência, em suas diversas formas – sendo a doença de Alzheimer a mais comum –, não é uma consequência inevitável do envelhecimento. É uma doença que rouba a memória, a capacidade de raciocínio e a autonomia, transformando radicalmente a vida dos indivíduos afetados e de suas famílias. O impacto é devastador, não apenas para os pacientes, mas para os cuidadores, que frequentemente enfrentam sobrecarga física e emocional, além de desafios financeiros.

Celene Pinheiro, em sua análise, ressalta a importância de entender a dimensão do problema. “Não dá para esperar que a solução venha de cima para baixo. É preciso que todos se envolvam”, aponta a especialista, destacando a responsabilidade coletiva. Projeções indicam um aumento vertiginoso no número de pessoas vivendo com demência nas próximas décadas. Se nada for feito para mitigar essa tendência ou, ao menos, preparar a sociedade para ela, os sistemas de saúde e assistência social estarão à beira do colapso. A infraestrutura atual, tanto em termos de diagnóstico e tratamento quanto de apoio a longo prazo, é flagrantemente insuficiente para a dimensão do problema que se avizinha.

Ações urgentes são necessárias em diversas frentes, uma visão compartilhada e defendida pela presidente da ABRAz:

Prevenção e Estilo de Vida: Embora não haja cura, estudos apontam que um estilo de vida saudável – incluindo dieta equilibrada, exercícios físicos, estímulo cognitivo e controle de fatores de risco cardiovascular – pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de demências. Campanhas de conscientização e políticas públicas que promovam hábitos saudáveis são fundamentais.
Diagnóstico Precoce: A identificação da demência em seus estágios iniciais permite a implementação de tratamentos para retardar a progressão da doença, planejar o futuro e oferecer suporte adequado. É essencial capacitar profissionais de saúde e garantir o acesso a ferramentas diagnósticas, algo que, segundo Pinheiro, ainda é um gargalo no Brasil.
Pesquisa e Desenvolvimento: O investimento contínuo em pesquisa é vital para desvendar os mecanismos das demências, identificar novos alvos terapêuticos e, um dia, encontrar a cura ou tratamentos mais eficazes.

Apoio a Cuidadores: Os cuidadores são a espinha dorsal do suporte a pessoas com demência. Eles precisam de reconhecimento, treinamento, apoio psicológico e financeiro. Programas de respiro e grupos de apoio são cruciais para evitar o esgotamento, e Celene Pinheiro enfatiza a “necessidade de o cuidador ser visto como uma peça fundamental nesse processo”.

Políticas Públicas Abrangentes: Governos precisam desenvolver e implementar estratégias nacionais para a demência, integrando saúde, assistência social, urbanismo e direitos humanos. Isso inclui desde a criação de “cidades amigáveis à demência” até a garantia de direitos legais e financeiros para os pacientes. A presidente da ABRAz é categórica ao afirmar que “é preciso que haja um plano nacional para que o problema não se agrave”.

Não podemos nos dar ao luxo de esperar. A demência é um desafio global que exige uma resposta global e local, coordenada e imediata. Ignorar essa realidade é condenar gerações futuras a uma crise de saúde pública e social sem precedentes. A perspectiva de Celene Pinheiro reforça que a hora de agir é agora.

Para aprofundar-se neste tema crucial e entender a urgência das ações necessárias, com as próprias palavras de Celene Pinheiro, presidente da ABRAz, recomendamos a leitura do artigo original que inspirou esta discussão: “O futuro nos atropelou: precisamos de ações para enfrentar a demência”, disponível na Coluna Letra de Médico da Revista.

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