Segurança

Higiene e aparência

Uma pessoa que tem a Doença de Alzheimer, aos poucos, perde a capacidade de cuidar de si, de tomar decisões e de avaliar riscos. A situação requer atenção e planejamento por parte dos cuidadores, pois há exposição a perigos que podem e devem ser evitados. É na convivência com o paciente, na observação de todas as suas tarefas diárias, que o cuidador perceberá suas perdas e dificuldades na organização pessoal, orientação no tempo e espaço e assim poderá traçar estratégias mais objetivas para protegê-lo dos riscos a que está exposto nas ações autônomas.

Não é uma medida confiável pautar-se exclusivamente no discurso do paciente em relação às suas habilidades e realizações. Frequentemente, eles apresentam relatos que tranquilizam as famílias, mas não correspondem precisamente ao ocorrido. Isso acontece porque os pacientes podem não conseguir fazer, mas sabem o que precisava ser feito, e relatam situações como se tivessem mais destreza do que têm, ou porque não recordam o que fizeram.

Por isso, monitorar ações com proximidade pode favorecer a segurança pessoal do paciente e garantir que os riscos sejam evitados com adaptações continuadas do ambiente, devido à evolução da doença. O oferecimento de auxílios devem ser graduais, de tal forma que estendam o quanto for possível a autonomia a cada etapa. Ficar por perto e observar sem interferir pode ser uma estratégia eficaz na identificação de riscos.

Riscos em casa

O ambiente domiciliar pode oferecer riscos, mesmo em situações corriqueiras que sempre fizeram parte dos hábitos dos pacientes. Pessoas com Doença de Alzheimer que moram sozinhas estão mais propensas a essas situações, pois esquecimentos e acidentes podem demorar a ser percebidos, com consequências desastrosas. É recomendável que a família esteja por perto e que possa passar períodos diurnos e noturnos com o paciente, para monitorar sua rotina e verificar a presença de riscos. A ocorrência de acidentes pode ser a condição para que o paciente não mais permaneça sem companhia, pois sua reincidência é muito provável.

Dicas:

  • Queda é a intercorrência mais comum em idosos, com consequências que podem ir de torções e lesões leves a fraturas com necessidade de tratamento cirúrgico, concussões cerebrais e até mesmo óbito. Recomenda-se instalar barras de segurança, redes de proteção nas janelas, retirar tapetes, deixar caminhos livres de obstáculos e usar piso antiderrapante em áreas molhadas. A escolha de sapatos baixos com solados rugosos que não escorreguem é prudente.
  • Vazamento de gás pode causar desmaio e complicações neurológicas. Para evitá-lo, sugere-se colocar trava de gás e fogão com travamento automatizado.
  • Intoxicação por ingestão de substâncias. Manter medicamentos ou produtos tóxicos longe do alcance do idoso com demência.
  • Queimaduras podem acontecer em atividades de higiene, culinária ou cuidados domésticos. É preciso monitorar a temperatura da água do chuveiro, da torneira e do bidê; controlar o uso do ferro de passar roupa; monitorar de perto a prática de culinária e a temperatura de comidas e de bebidas.
  • Objetos cortantes: monitorar o uso de lâminas e de utensílios de cozinha que possam gerar cortes.
  • Evitar ambientes com muitas escadas.

 

Riscos em ambientes externos

Os ambientes públicos estão sujeitos a inúmeros riscos que são intensificados para pacientes com DA. Algumas tarefas, mesmo que habituais, podem transformar-se em situações de risco, devido às inabilidades que se instalam. Ao sair sozinho, o paciente pode, sem perceber, se expor a riscos que seriam evitados ou minimizados se ele estivesse acompanhado. A locomoção segura requer boa orientação espacial e memória para manutenção de informação sobre o destino. Atravessar a rua é uma situação que requer atenção e agilidade. Os terrenos das calçadas são mais irregulares e propensos a provocar quedas. Além disso, a violência urbana é uma realidade e, especialmente em grandes centros, o idoso pode ser o alvo de escolha de meliantes, devido à facilidade de abordá-los.

Dicas:

  • As famílias devem avaliar cautelosamente os riscos, antes de decidir se há condições seguras para as saídas autônomas ou acompanhadas de seu familiares com DA.
  • Para evitar que o paciente se perca, recomenda-se que ele carregue uma identificação com número de telefone de contato e endereço. Há que considerar, também, riscos de mau uso dessas informações por terceiros.

 

Condução de veículos

Falta de agilidade para tomada rápida de decisões, dificuldade de atenção com perda de meta, distratibilidade elevada e desorientação espacial são prejuízos comuns e que são incompatíveis com direção segura. Quando o paciente apresentar as primeiras dificuldades para guiar o carro, os familiares deverão encontrar a melhor forma de agir, fazendo com que ele deixe de dirigir gradualmente ou, se necessário, impedindo-o imediatamente. Essa atitude tende a ser traumática, porém, necessária, pois pode não só colocá-lo em risco como expor terceiros a perigos graves.

Dicas:

  • Caso seja possível, discuta gentilmente o assunto, usando argumentos que possam convencê-lo sem fazê-lo sentir-se incapaz. Use a alegação de que o aumento de congestionamentos e os assaltos a motoristas o afligem ou sugira a venda do automóvel, argumentando necessidade de recursos financeiros.
  • Sugira outro tipo de transporte e valorize suas vantagens.
  • Caso o paciente insista em dirigir, guarde as chaves em local seguro ou retire uma peça para impedir que o carro funcione.
  • Solicite um atestado médico para impedir o paciente de guiar. Isso poderá ser usado inclusive para impedir a renovação da carteira de motorista do paciente.
  • Se o paciente souber de sua condição de saúde, convém explicar sobre as dificuldades e riscos.

 

Risco financeiro

A pessoa com Doença de Alzheimer, aos poucos, perde a capacidade de lidar com o dinheiro, de fazer contas e a noção de valor. Assim, corre o risco de ser assaltado, de fazer grandes doações e de perder dinheiro. É comum o uso de cartões magnéticos e a utilização de senhas para operações bancárias, mas a tecnologia pode ser um complicador no gerenciamento de contas e finanças, pois é comum o paciente perder as senhas e pedir ajuda à estranhos e, consequentemente, ficar mais suscetível a ações de pessoas de má fé. Quando o paciente fizer uso inadequado dos recursos e se expuser a riscos, deve-se questionar a continuidade de permanecer no controle de suas finanças e buscar alternativas seguras de transição de responsabilidades.

Dicas:

  • Verificar se as contas estão sendo pagas corretamente e se houve mudança significativa no padrão de gastos. Problemas nessas áreas são sinais comuns de necessidade de acompanhamento na condução de controle financeiro.
  • Evitar que o paciente tenha grandes quantidades de dinheiro em espécie.
  • Colocar contas em débito automático.
  • Sugere-se que um familiar de confiança tenha conta conjunta com o paciente.
  • O gerente do banco pode ser um aliado. Conte sobre a situação e peça para que, caso alguma movimentação estranha ocorra, a família seja avisada imediatamente.
  • No estágio mais avançado da doença, é possível fazer uma interdição judicial, situação na qual é nomeado pelo judiciário um curador que agirá em nome do paciente.
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