Incontinência urinária: desafios para o cuidado

Com o crescente envelhecimento populacional, é notório paralelamente o aumento das doenças crônico- degenerativas. Neste contexto, os desafios de cuidado a essa parcela da população torna-se ainda mais evidente e complexo. Dentre estes desafios, podemos destacar os grandes gigantes da geriatria, também conhecidos como os grandes “Is”, onde aqui podemos destacar a insuficiência cerebral  e a incontinência urinária.

A Sociedade Internacional de Continência (ICS) define a incontinência urinária (IU) como toda perda involuntária de urina.  Este problema torna-se ainda mais prevalente com o processo de envelhecimento, sendo também uma alteração muito comum na pessoa com Alzheimer.

Ainda que as condutas terapêuticas ao paciente com Alzheimer, por exemplo, que inicie com perdas urinárias ainda sejam controvérsias e desafiadoras, é imprescindível que as causas sejam investigadas buscando-se excluir outros possíveis fatores intrínsecos como infecção urinária, diabetes, bem como medicações em uso, entre outros. Neste sentido, a investigação da incontinência urinária em pessoas com Alzheimer deve incluir anamnese detalhada, exame físico geral e neurológico além de exames laboratoriais.

Especificamente nas demências, as perdas urinárias podem estar associadas a consequências especificas das alterações cerebrais que refletem diretamente em funções envolvidas na micção espontânea como, por exemplo, as alterações cognitivas que resultem em perda da percepção dos eventos miccionais, dificuldade em sentir o enchimento vesical e, por conseguinte, a necessidade de ir ao banheiro, mobilidade prejudicada dificultando o acesso e chegada em tempo hábil ao banheiro, dificuldade de encontrar o local adequado para urinar ou mesmo de como usá-lo corretamente.

Ter uma condição de incontinência urinária acaba gerando estresse ao cuidador e pode provocar grande sofrimento na pessoa com Demência. Por isso, esta é uma situação que exigirá calma e paciência na condução das ações de modo a contribuir para minimizar as consequências que envolvem não só aspectos físicos como lesões de pele, como também emocionais e sociais.

  

Demência e Incontinência: desafios para o cuidado

 Após excluídas outras causas para o acometimento da incontinência como infecção, obstipação, alterações hormonais e aumento da próstata, algumas condutas comportamentais poderão ser realizadas de modo a  contribuir sobremaneira para o cuidado a este paciente.

O primeiro passo é cuidar do ambiente. Neste sentido, o banheiro deve ser de fácil acesso, com ausência de moveis no caminho, iluminação adequada e sem itens como tapetes que possam favorecer as quedas. Barras de apoio e vaso sanitário na altura adequada que permitam que o idoso consiga apoiar os pés completamente no chão são dicas importantes, sobretudo quando o mesmo se encontra em uma fase inicial da doença e ainda consegue utilizar o banheiro sozinho.

Secundariamente, o estabelecimento de rotinas e micções programadas também auxilia no processo, uma vez que muitos pacientes acabam esquecendo de ir ao banheiro ou passam a não sentirem mais o enchimento da bexiga. Neste sentido, sugere-se que sejam estabelecidos horários para levar o idoso ao banheiro ou mesmo que se fique atento a sinais de agitação ou fáceis de desconforto pois estas podem estar sinalizando uma “bexiga cheia” cujo idoso não está sabendo expressar. Neste sentido, a comunicação torna-se uma grande aliada, onde estimula-se o uso de palavras simples e curtas e comandos de mais fácil compreensão.

Quanto ao vestuário, o mesmo deve ser de fácil remoção, sendo sugeridas roupas com velcros e elásticos, facilitando a retirada e colocação sobretudo em situações de urgência miccional.

A ingesta hídrica, muitas vezes erroneamente é minimizada na tentativa de diminuir as perdas, entretanto a mesma deve ser estimulada pois além de todos os benefícios da hidratação corporal, o consumo de água também contribui para evitar a constipação intestinal que por sua vez, também é considerada um dos contribuintes para provocar perdas urinárias involuntárias. Reforça-se ainda que nos casos de Demências, as pessoas esquecem-se de beber ou já não reconhecem a sensação de sede.

Em fases mais avançadas da doença, muitas vezes acaba sendo inevitável o uso de fraldas descartáveis. Neste sentido, a preocupação deve estar voltada para os cuidados com a pele perineal, uma vez que o constante contato da urina acaba por trazer outras consequências também de difícil manejo como assaduras e fungos. Assim, indica-se trocas de fraldas constantes, mantendo-se a pele sempre limpa e seca, utilizando-se sabonetes neutros e cremes de hidratação e proteção sempre que possível.

A incontinência urinária é uma situação que traz constrangimento e isolamento social, precisando ser tratada com respeito e dignidade. Porém cuidar de uma pessoa com demência e com IU não é tarefa fácil. Neste sentido, cabe às famílias e cuidadores atentarem para os sinais/sintomas de alerta e buscar auxílio profissional para conduzir tal alteração da maneira mais adequada possível.

 

Melissa Orlandi Honório Locks

Doutora em Enfermagem – Docente da Universidade Federal da Santa Catarina (UFSC)

 


Referências

 TOMASI, Andrelise Viana Rosa et al . INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM IDOSAS: PRÁTICAS ASSISTENCIAIS E PROPOSTA DE CUIDADO ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE. Texto contexto – enferm.,  Florianópolis ,  v. 26, n. 2,  e6800015,    2017 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072017000200316&lng=en&nrm=iso>. access on  14  Mar.  2019.  Epub June 26, 2017.  http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072017006800015.

Dementia Austrália. Incontinência. Disponível em https://www.dementia.org.au/support-and-services/families-and-friends/personal-care/continence. Acessado em 18/03/2019

International continence society. Disponível em https://www.ics.org/. Acessado em 18/03/2019