Falar sobre a Doença de Alzheimer (DA) é uma questão de saúde pública

Começa mais ou menos assim: a mesma pergunta é feita várias vezes; há também uma dificuldade em acompanhar conversas e articular; sair de carro se transforma em pesadelo porque achar o caminho não é natural. Esses sinais evidenciam o primeiro e mais característico sintoma da Doença de Alzheimer, a perda de memória recente.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca a diminuição das funções cognitivas. Em poucas palavras, as células cerebrais morrem, prejudicando a função mental. A progressão da doença acarreta em problemas mais graves, como o esquecimento de fatos mais antigos, a desorientação no espaço e irritabilidade.

Falar sobre a Doença de Alzheimer (DA) é uma questão de saúde pública. No mundo, estima-se que 50 milhões de pessoas sofram de demência – grupo de distúrbios cerebrais que causam a perda de habilidades intelectuais e sociais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DA é responsável por até 70% dos casos de demência.

No Brasil o cenário é particularmente desafiador. O número de indivíduos vivendo com demência deve triplicar até 2050, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde. O número de pacientes diagnosticados com Alzheimer deve crescer em proporção semelhante.

Ainda não há cura para a Doença de Alzheimer, o objetivo do tratamento se limita a frear os sintomas. Por trata-se de uma enfermidade de evolução progressiva e inexorável é preciso viabilizar soluções que melhorem a qualidade de vida dos pacientes e dos cuidadores.

A ampliação do acesso aos tratamentos através do SUS vem contribuindo para minimizar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Há exatamente um ano, o Ministério da Saúde disponibiliza o medicamento Rivastigmina adesivo transdérmico para tratamento da Doença de Alzheimer, previsto no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. O medicamento age inibindo uma enzima responsável por degradar a acetilcolina, um neurotransmissor essencial nos processos cognitivos, principalmente a memória.

Ao administrá-lo, temos uma oferta maior de acetilcolina no organismo. A versão oral da Rivastigmina já era oferecida no SUS, mas sua ingestão pode causar alguns desconfortos gastrointestinais, como náusea, vômito e diarreia. A vantagem do adesivo é que a medicação é liberada gradualmente através da pele, reduzindo a possibilidade de efeitos colaterais por não passar diretamente pelo trato digestivo.

Existem outras frentes que ainda precisam ser trabalhadas em termos de políticas públicas. A complexidade da Doença de Alzheimer demanda a atuação de equipes de diversas áreas e uma abordagem integral que facilite a interação médico-cuidador-paciente. O médico atuando sozinho é incapaz de resolver muitas das questões relacionadas à enfermidade. As ações multidisciplinares podem interferir positivamente no tratamento, com melhoras significativas de problemas comuns como a depressão.

A Doença de Alzheimer quando diagnosticada no início, com tratamento adequado, ajuda a impedir a progressão e amenizar os sintomas, proporcionando melhor qualidade de vida ao paciente e reduzindo o sofrimento dos cuidadores e da família. O avanço da ciência abre um caminho promissor e traz esperança para toda sociedade.

Fonte: Jornal da 3ª Idade

Rodrigo Rizek Schultz é neurologista e Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). Foto: divulgação